A faculdade deveria ser um lugar de descobertas, trocas e crescimento pessoal. Mas, em meio a provas, pressão por desempenho, novos círculos sociais e mudanças na rotina, muitos estudantes acabam travando batalhas silenciosas com a comida. Os transtornos alimentares surgem sorrateiros e, muitas vezes, se escondem atrás de piadas sobre dietas, jejum entre aulas ou o famoso “não tive tempo de comer hoje”.
E é aí que mora o perigo: quando a relação com a comida começa a refletir diretamente a ansiedade, o estresse e a sensação de não dar conta. O assunto é delicado, mas precisa ser falado — com cuidado, empatia e sem julgamentos.
O que são transtornos alimentares, afinal?
Transtornos alimentares são condições de saúde mental que afetam a forma como uma pessoa se relaciona com a comida, o corpo e o peso. Mais do que uma questão de aparência, eles envolvem comportamentos alimentares desregulados e pensamentos obsessivos sobre controle, culpa e perfeição.
Esses transtornos não surgem “do nada”. Eles costumam estar ligados a fatores emocionais, sociais, biológicos e psicológicos. E na faculdade, com tantas mudanças ao mesmo tempo, esse terreno se torna ainda mais fértil para que esses comportamentos apareçam ou se intensifiquem.
Ansiedade, controle e o prato como válvula de escape
Na graduação, tudo parece acontecer ao mesmo tempo: prazos apertados, escolhas de carreira, mudanças no corpo e na mente. Nesse turbilhão, a comida muitas vezes deixa de ser só nutrição e vira símbolo de conforto, punição ou controle.
Para algumas pessoas, a ansiedade bate e comer vira uma fuga. Para outras, o único controle possível parece ser o que entra (ou não) no prato. E é assim que transtornos alimentares como bulimia, anorexia e compulsão alimentar podem se desenvolver, mesmo sem que o estudante perceba de imediato.
Os transtornos alimentares mais comuns e como eles se manifestam
Vamos com calma: entender não é rotular, é acolher. Cada pessoa vive a alimentação de uma forma diferente, mas alguns sinais precisam de atenção.
Alguns dos transtornos alimentares mais comuns entre universitários são:
Anorexia nervosa: caracterizada pela restrição severa de alimentos, medo intenso de ganhar peso e distorção da imagem corporal.
Bulimia nervosa: envolve episódios de compulsão alimentar seguidos por comportamentos compensatórios, como vômitos ou uso excessivo de laxantes.
Transtorno de compulsão alimentar periódica: a pessoa come grandes quantidades de comida em pouco tempo, mesmo sem fome, geralmente acompanhada de culpa ou vergonha.
Ortorexia: obsessão por uma alimentação “extremamente saudável”, que pode excluir grupos alimentares inteiros e gerar isolamento social.
O impacto das redes sociais no comportamento alimentar dos universitários
As redes sociais são praticamente uma extensão da vida universitária. A cada scroll, aparece uma avalanche de corpos “padrão”, dietas milagrosas, treinos extremos e “receitas fitness” que nem sempre são saudáveis.
O problema não está só na comparação, mas na distorção da realidade. Um vídeo de 15 segundos mostrando uma marmita impecável pode gerar culpa em quem mal teve tempo de comer um salgado na cantina.
Esse tipo de conteúdo pode intensificar a obsessão com o corpo ideal e desencadear transtornos alimentares em quem já está fragilizado emocionalmente. E o pior: muitos desses perfis promovem comportamentos de risco mascarados como “autocuidado”.
Vale lembrar que seguir criadores que falam com responsabilidade sobre saúde mental e corpo real pode ser um bom antídoto.
Alimentação e rendimento acadêmico: o que a ciência diz?
O cérebro precisa de combustível. Não é papo motivacional, é bioquímica. Estudos apontam que a má alimentação — seja por excesso ou por falta — pode afetar diretamente a concentração, a memória e o desempenho em provas.
Além disso, a relação emocional com a comida interfere no humor e no sono. Universitários com transtornos alimentares não tratados costumam relatar cansaço constante, dificuldade de foco e até crises de ansiedade durante os estudos.
Criar uma rotina alimentar equilibrada, mesmo que simples, ajuda a regular o relógio biológico, melhora o desempenho e reduz picos de estresse. Ou seja, comer bem não é luxo, é ferramenta de sobrevivência na faculdade.
Como identificar os sinais de transtornos alimentares (em você ou em alguém próximo)
Alguns comportamentos podem acender o alerta:
Pular refeições com frequência ou evitar comer em público;
Obsessão com calorias e peso;
Uso excessivo de laxantes ou diuréticos;
Sentimento de culpa após comer;
Oscilações de humor associadas à alimentação;
Isolamento social.
Se você se identificou com esses sinais — ou percebeu algo parecido em alguém próximo — vale buscar ajuda profissional. Muitas faculdades oferecem apoio psicológico gratuito ou encaminhamentos para serviços especializados.

O papel das amizades e da rede de apoio nos transtornos alimentares
Ninguém precisa lidar com isso sozinho. Um amigo que escuta sem julgar, um professor atento, um centro de apoio psicológico dentro da universidade… tudo isso faz diferença. Se você perceber comportamentos preocupantes em alguém próximo (ou em si mesmo), o mais importante é oferecer acolhimento, não julgamento.
E se estiver difícil saber por onde começar, aqui vai uma dica que pode ajudar a criar uma rotina alimentar mais tranquila: lanches saudáveis para levar para a faculdade e trabalho. Alimentar-se bem não precisa ser complexo, caro ou cheio de culpa.
Buscar ajuda é um ato de coragem, não de fraqueza
A gente sabe: reconhecer que há algo errado e procurar ajuda profissional pode parecer assustador. Mas o primeiro passo é sempre o mais difícil — e o mais transformador.
Muitas faculdades oferecem atendimento psicológico gratuito ou a preços acessíveis. Há também grupos de apoio online e iniciativas dentro de centros acadêmicos que promovem rodas de conversa sobre saúde mental. Vale conversar com um psicólogo, nutricionista ou psiquiatra.
E se a pressão estiver vindo de todos os lados — da faculdade, da vida pessoal, das expectativas que você nem sabe se são suas — talvez este texto aqui ajude: o que fazer quando seu curso te desmotiva e você não quer trancar.
No fim das contas, seu corpo não é o problema
Transtornos alimentares não têm uma cara específica. Eles podem estar escondidos atrás de sorrisos, de bons boletins, de fotos no Instagram. É por isso que falar sobre isso é tão necessário. Se você se identificou com algo que leu aqui, ou lembrou de alguém, que tal conversar sobre isso com carinho?
A faculdade é um período intenso, mas você não precisa se machucar para sobreviver a ele. Sua saúde mental importa. Sua relação com a comida importa. E, acima de tudo, você importa.