Faculdade, provas, prazos, trabalhos, apresentações… A vida universitária já é desafiadora pra qualquer pessoa. Agora imagina enfrentar tudo isso com um cérebro que funciona de um jeito completamente diferente do considerado “padrão”. Pois é, essa é a realidade de quem vive a neurodivergência.
Para pessoas com TDAH, autismo ou dislexia, estudar na faculdade é um percurso cheio de desafios invisíveis, muita criatividade e, claro, uma dose diária de resiliência.
Se você é, conhece ou quer entender como é a vivência de quem aprende fora do molde tradicional, esse papo é pra você. Bora mergulhar nesse universo?
O que é neurodivergência?
Apesar do nome complexo, a condição é super comum. Neurodivergência é um termo usado para descrever pessoas cujos cérebros funcionam de maneira diferente da maioria — ou seja, fora do que se convencionou chamar de “neurotípico”.
Essas diferenças não são doenças ou defeitos, mas sim formas diversas de processar informações, se comunicar, aprender e interagir com o mundo. Fazem parte desse grupo pessoas com:
TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) — Desafio na regulação da atenção, dificuldade com organização, esquecimento, hiperatividade ou impulsividade.
Autismo (Transtorno do Espectro Autista) — Envolve características como sensibilidade sensorial, dificuldade na comunicação social, rigidez de rotina e hiperfoco em temas de interesse.
Dislexia — Uma diferença na forma como o cérebro processa a linguagem, especialmente na leitura, escrita e ortografia.
Cada condição tem suas particularidades, mas todas compartilham algo em comum: exigem adaptações e estratégias específicas, especialmente no contexto acadêmico.
Quais são os desafios de estudar com uma neurodivergência?
Sobrecarga sensorial e emocional
Ambientes barulhentos, salas cheias, luzes fortes e ruídos constantes podem ser extremamente desconfortáveis — principalmente para quem é autista ou tem TDAH. Isso gera cansaço mental e ansiedade, afetando diretamente o desempenho.
Além disso, a constante sensação de não se encaixar, de estar atrasado ou perdido, impacta muito na saúde emocional. E esse é um tema que se conecta diretamente com os transtornos alimentares na faculdade, que muitas vezes são intensificados pela pressão acadêmica e social.
Dificuldades com organização e gestão do tempo
Pra quem tem TDAH, organizar tarefas, lembrar prazos e manter o foco é um verdadeiro desafio. A procrastinação não é preguiça, é parte do funcionamento do cérebro.
Pessoas com dislexia também lidam com um tempo maior para ler textos, compreender conteúdos densos e produzir trabalhos escritos — o que exige planejamento redobrado.
Falta de acessibilidade acadêmica
Ainda são poucas as instituições que oferecem adaptações realmente efetivas. Muitos professores desconhecem as necessidades dos alunos neurodivergentes, o que leva a situações como:
Provas sem tempo estendido para quem precisa;
Avaliações em formatos que não consideram dificuldades na escrita ou leitura;
Pouco acolhimento ou abertura para diálogo sobre essas questões.
Falta de compreensão
Aquela famosa frase “é só prestar atenção” dói mais do que parece. A desinformação faz com que colegas e até professores invalidem as dificuldades.
Existe um lado positivo em ser neurodivergente na faculdade?
Apesar dos perrengues, nem tudo são pedras no caminho. Não devemos romantizar, mas a neurodivergência também carrega potenciais incríveis:
- Hiperfoco: Quando o tema é interessante, a concentração atinge níveis quase sobre-humanos, gerando produções de altíssima qualidade.
- Criatividade fora da curva: Resolver problemas de jeitos nada convencionais, pensar em soluções inesperadas e inovar se tornam quase uma segunda natureza.
- Pensamento visual e não linear: Disléxicos, em especial, costumam conectar ideias, visualizar conceitos complexos e entender padrões que nem todo mundo percebe.
- Empatia e resiliência: Viver em um mundo que não foi feito pra você desenvolve sensibilidade, empatia e uma capacidade absurda de se adaptar.
Novamente: não é sobre romantizar. É sobre entender que, sim, existem dificuldades, mas também há potência em ser diferente.
Estratégias que ajudam na vida acadêmica
Apesar dos desafios, muitas pessoas neurodivergentes desenvolvem estratégias próprias para atravessar a vida universitária com mais leveza e autonomia.
Organização com criatividade
Uso de apps como Notion, Todoist e Google Keep para organizar tarefas e prazos;
Técnicas como Pomodoro, que alterna períodos de foco e descanso;
Alarmes, post-its e checklists espalhados por todos os cantos — literalmente.
Controle sensorial e foco
Fones de ouvido com cancelamento de ruído pra fugir do excesso de estímulos;
Escolher lugares mais tranquilos da faculdade pra estudar;
Uso de objetos de regulação sensorial (bolinhas antiestresse, texturas, brinquedos sensoriais).
Comunicação e busca por apoio
Conversar com professores, coordenadores e psicopedagogos é fundamental pra garantir adaptações. Algumas universidades oferecem serviços de suporte, como atendimentos psicológicos, terapias e orientação educacional.
Inclusive, vale conhecer esse projeto: a Universidade de Sorocaba oferece atendimento gratuito em saúde para a comunidade, que pode ser um respiro pra quem está lidando com demandas emocionais e acadêmicas ao mesmo tempo.
Representatividade importa (e muito!)
Ver outros estudantes neurodivergentes ocupando espaços na academia é revolucionário. Ajuda a quebrar estigmas, questionar métodos ultrapassados e construir ambientes mais inclusivos.
Aliás, vale lembrar: se você acha que está lutando contra algo invisível, que ninguém vê, pode ser que esteja na hora de investigar. Muitas pessoas recebem diagnóstico só na vida adulta, quando chegam na faculdade e percebem que o jeito de aprender não é “preguiça”, “desatenção” ou “desorganização”. Ou seja, é só um cérebro diferente, que funciona do seu próprio jeito.

Como as universidades podem ser mais inclusivas enquanto a neurodivergência?
A inclusão real no ensino superior passa por ações práticas, como:
- Oferecer materiais em diferentes formatos (áudio, texto simplificado, vídeos);
- Garantir tempo extra em avaliações para quem necessita;
- Criar espaços sensoriais ou ambientes tranquilos nas unidades;
- Capacitar professores para lidarem com estudantes neurodivergentes de forma empática e eficiente;
- Fortalecer serviços de apoio psicopedagógico e terapêutico dentro da instituição.
Mais do que adaptações, é sobre criar uma cultura de acolhimento onde todas as formas de ser e aprender sejam respeitadas.
Neurodivergência e ensino superior: seguimos na luta por inclusão
Em resumo, estudar sendo neurodivergente é uma jornada que exige muito mais que disciplina. É sobre resiliência, autoconhecimento e, muitas vezes, resistência num sistema que ainda não entende totalmente essas diferenças.
Mas também é sobre se apoiar em estratégias, buscar redes de apoio e, claro, ocupar esses espaços que também são nossos. Porque ninguém deveria ficar pra trás só porque aprende ou vive de um jeito diferente.