Você já parou pra pensar se a faculdade realmente é um espaço pra todo mundo? A ideia de que o ensino superior é democrático até parece bonita no papel, mas, na prática, a história é bem diferente — e nem sempre justa.
Quando olhamos para dentro das salas de aula, é impossível não perceber a falta de diversidade. Cadê os corpos pretos, os PCDs, as pessoas LGBTQIAPN+? Onde estão os rostos que deveriam representar a pluralidade que existe do lado de fora dos muros acadêmicos?
Quem está na faculdade?
Vamos começar pelos números que não mentem. Segundo dados do IBGE (2022), apenas 10,2% dos alunos do ensino superior brasileiro são pretos, enquanto 43,7% são brancos. E quando olhamos pra presença de pessoas com deficiência, o cenário é ainda mais escancarado: somente 0,8% dos estudantes universitários são PCDs (Censo da Educação Superior, Inep 2022).
E tem mais: uma pesquisa da Mais Diversidade (2021) mostra que 63% dos estudantes LGBTQIAPN+ já sofreram algum tipo de discriminação na faculdade.
A real é que, pra muita gente, chegar até a faculdade já é uma vitória gigantesca. Mas e depois? A permanência, muitas vezes, vira outro obstáculo cheio de desafios.
Inclusão no ensino superior: uma realidade desigual
Por mais que os avanços sejam reais — como as políticas de cotas e programas de acesso —, a inclusão no ensino superior ainda tá longe de ser uma vitória completa.
Os números não mentem: pessoas negras, indígenas, PCDs e LGBTQIAPN+ seguem sendo minoria dentro das universidades, especialmente nas particulares. E não é por falta de vontade, é por falta de acesso, oportunidade, incentivo e, muitas vezes, segurança pra ocupar esses espaços.
Aliás, se você quer entender mais sobre as diferenças que existem entre instituições, vale muito conferir esse papo sobre universidade pública vs particular.
Quando a porta tá aberta, mas não é pra todo mundo
Nem sempre o problema é só entrar — se manter na faculdade também é um baita desafio.
Faltam bolsas, auxílios e suporte emocional.
Falta representatividade nas cadeiras, nos quadros de professores e nas direções.
Falta acolhimento pra quem já chega carregando séculos de desigualdade.
Pra quem é preto, periférico, PCD ou LGBTQIAPN+, a jornada universitária não é só sobre estudar. É sobre sobreviver num ambiente que, muitas vezes, não foi pensado pra essas vivências.
Baixos números, grandes impactos
Vamos ser sinceros: a inclusão no ensino superior ainda não reflete a diversidade brasileira. Segundo dados recentes do IBGE e do Inep:
Pessoas negras são mais de 56% da população, mas ainda representam menos da metade dos estudantes universitários.
Pessoas com deficiência enfrentam barreiras arquitetônicas, pedagógicas e atitudinais absurdas dentro da maioria das faculdades.
Estudantes LGBTQIAPN+ convivem com o medo real de violência, preconceito e exclusão — dentro e fora do campus.
E quem consegue entrar, muitas vezes se sente deslocado, sem referências, sem apoio e sem políticas efetivas de permanência.
Cotas, bolsas e políticas públicas: solução ou paliativo?
Não dá pra ignorar que as cotas mudaram o jogo — pelo menos, em partes. Desde que a Lei nº 12.711/2012 foi criada, a presença de alunos pretos, pardos e indígenas no ensino superior cresceu. Entre 2010 e 2022, o salto foi de 30% pra 50%. Parece muito? Até é… mas ainda tem um abismo enorme pra fechar.
Olhando bem, o problema nunca foi só entrar. Programas como Prouni, Fies, além de bolsas estaduais e municipais, ajudaram bastante. Só que, mesmo assim, a luta não acabou. A permanência segue sendo um desafio diário.
A grana pesa — e muito. De acordo com a Andifes (2021), 51% dos alunos de universidades federais vivem em famílias com renda per capita de até 1,5 salário mínimo. E não é só dinheiro: a ausência de apoio acadêmico, psicológico e até mesmo a falta de representatividade fazem com que muitos desistam no meio do caminho.
Faculdade sem incentivo é privilégio, não direito
Falta incentivo, sim. E não é só sobre dinheiro, é sobre estrutura, acolhimento e pertencimento.
Cadê as bolsas permanência suficientes?
Cadê os projetos de mentoria pra quem chega de contextos mais vulneráveis?
Cadê os espaços seguros dentro da faculdade pra discutir raça, gênero, acessibilidade e diversidade de verdade?
Se você acha que isso não faz diferença, imagina estudar sabendo que, se faltar dinheiro pro transporte, pro almoço ou até pra comprar um livro, você tá na mão.
E, se você acha que isso é exagero, bora dar uma olhada também em como é a vida de quem estuda numa universidade rural — spoiler: os desafios são outros, mas são bem reais.

Saúde mental também é sobre inclusão
Fazer faculdade já não é fácil. Agora, imagina fazer isso enquanto carrega nas costas o peso do racismo, do capacitismo, da LGBTfobia e da desigualdade social.
O impacto na saúde mental de quem faz parte de grupos minorizados é gigantesco. Ansiedade, depressão, síndrome do impostor e burnout não são raridade — são rotina.
As universidades ainda estão engatinhando quando o assunto é suporte psicológico. E, convenhamos, não tem como falar em inclusão no ensino superior ignorando que esses estudantes estão adoecendo tentando sobreviver no ambiente acadêmico.
Representatividade importa (e muito)
Olhe bem pros seus professores. Quantos são pretos? Quantos são pessoas com deficiência? E LGBTQIAPN+?
A representatividade não é detalhe. Ver alguém como você ocupando espaços de liderança na universidade muda tudo. Não só inspira, mas também cria ambientes mais empáticos, mais seguros e menos excludentes.
Quando a sala de aula não reflete a diversidade da sociedade, ela só reforça as desigualdades que já existem.
E se o problema for estrutural?
Spoiler: é. A verdade é que o problema não tá só nas universidades — tá em todo o sistema. Desde a infância, crianças pretas, pobres, PCDs e LGBTQIAPN+ enfrentam menos acesso à educação de qualidade, menos oportunidades, menos segurança e menos incentivo.
Chegar na faculdade é, muitas vezes, uma exceção e não a regra. Isso precisa mudar.
Por um futuro com uma faculdade realmente para todos
Tá mais do que na hora da gente encarar que diversidade não é bônus, não é modinha, não é favor. É necessidade. Uma faculdade que não acolhe, não escuta e não promove inclusão, na real, tá ensinando bem pouco sobre humanidade.
Enquanto não houver mudança estrutural — nas políticas, nos currículos e nas atitudes —, a tal “meritocracia” não passa de uma ilusão que só beneficia quem já nasceu jogando no modo fácil.
Se você tá na faculdade, olhe pro lado. Se todo mundo parece com você, talvez seja hora de se perguntar: quem ficou de fora desse rolê?